A nova realidade que, desde 2013, é a União das Freguesias de Amarante (S. Gonçalo), Madalena, Cepelos e Gatão, levou à adoção de estratégias que, por um lado, criassem proximidade entre eleitos e eleitores e, por outro, promovessem a coesão social num território onde, não obstante os seus 15,21 quilómetros quadrados, se afirmam vivências e idiossincrasias diversas.
Como escreveu o sociólogo Augusto Santos Silva (1993), “cultura só se diz no plural”, sendo neste princípio, que remete para o respeito, a compreensão e valorização das diferenças, que tem assentado o trabalho da UF, relevando o que é local e identitário em cada uma das antigas freguesias, seja no domínio das tradições, das festas, das celebrações populares ou outras.
Inserem-se, aqui, as Caminhadas organizadas anualmente, bem como a Ronda das Adegas, realizada na antiga freguesia de Gatão. Esta, para além do seu caráter social e de manifestação de convívio, tem, marcadamente, o objetivo de promoção do território, atraindo, anualmente, muitos forasteiros.
Três Caminhadas e uma Ronda
Comecemos pela Caminhada da Família, porventura a mais transversal das três que a UF organiza e que pretende celebrar a família, cujo dia é evocado a 15 de maio.
Realiza-se no domingo mais próximo daquela data, na Ecopista da Linha do Tâmega, e nela costumam participar mais de duas centenas de pessoas. A partida é feita da estação de Amarante e a chegada acontece junto à Igreja de S. João de Gatão.
“Literalmente, o evento envolve toda a família: avós, pais e filhos. Há quem empurre carrinhos de bébé, há crianças que fazem o percurso de bicicleta, de patins ou com skates”, refere Lurdes Pinheiro, Secretária da Junta da UF, que explica que a caminhada “não tem em vista, propriamente, a prática desportiva, destinando-se, antes, a celebrar a Família. Quem não consegue caminhar aparece à partida ou à chegada e participa na festa que a iniciativa constitui”, diz.
Finda a caminhada, a Associação Cultural e Recreativa de Gatão (ACRG) abre as suas instalações para um almoço-convívio que tem, desde o início, em 2009 (quando ainda era organizada pela antiga J.F. de Gatão), ementa definida: grelhado misto. À sobremesa (que a UF introduziu) serve-se doce fálico de S. Gonçalo.
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A Caminhada da Árvore realiza-se na Primavera, desenvolvendo-se o seu percurso (de, aproximadamente, 10/11 quilómetros, conforme a edição) em território da antiga freguesia de Cepelos.
A razão desta escolha é simples: é ali, em Cepelos, que se situa o Parque Florestal, ponto de passagem comum a todas as edições já realizadas (a primeira teve lugar em 2006); onde existem manchas florestais autóctones e, por exemplo, vários carvalhos centenários classificados. Mas também um vasto património ligado ao rio Tâmega, cuja margem esquerda é feita de uma notável biodiversidade.
Nenhuma edição é igual à anterior, nem mesmo no percurso (classificado, invariavelmente, de dificuldade média) a não ser na valorização do património natural, sendo, em cada ano, simbolicamente, plantada uma árvore. De relevar é, também, a importância dada à História da antiga freguesia, com cada edição a ter, desde 2016, em sítios do percurso previamente definidos, recreações de episódios históricos, como a celebrada Lenda do Penedo da Moura, encenada precisamente naquele ano.
Finda a Caminhada, tem lugar um almoço feito de feijoada à transmontana, acompanhada de vinho verde, como é natural. À sobremesa são servidos doces conventuais.
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Caminhos do Tâmega é a designação de uma caminhada que acontece, anualmente, a 10 de junho e que tem como propósito “divulgar a História, a Memória e as Paisagens Culturais e Naturais do Rio Tâmega, tendo-o como ‘anfitrião’”. É, portanto, feita essencialmente em território de S. Gonçalo e Madalena, sendo seu objetivo “proporcionar aos participantes aspetos diversos da identidade amarantina, intimamente relacionada com o rio, numa relação ambivalente de amor/ódio, que ora gera atração e prazer, ora infunde respeito e receio”, lê-se na sua memória descritiva.
Trajetos diferentes, embora, a cada ano mostram paisagens ribeirinhas e praias fluviais e incluem uma travessia de guiga entre margens, sempre com a História no horizonte. Em 2019, por exemplo, foi vasto o pano de fundo para “Moleiros e Padeiros do Tâmega”.
Ao longo do percurso (de dificuldade média e 10 quilómetros de extensão) os participantes contactaram com as diferentes tipologias de pão existentes em Amarante; com os núcleos moageiros de Ribeirinho, Torre, Varziela e Feitoria e, ainda, com alguns moinhos de rodízio do Bairro da Torre. Tudo isto entre muitas estórias e memórias de agricultores, moleiros e padeiros.
No arranque da caminhada, é servido aos participantes um pequeno almoço constituído por café de saco e doce da Teixeira. À chegada, espera-os porco no espeto.
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A Ronda das Adegas é uma das mais celebradas iniciativas anuais da UF. Acontece no primeiro sábado de setembro, integrada na Feira das Tasquinhas, que se realiza, desde a véspera, no Centro Interpretativo do Vinho Verde (CIVV), instalado no edifício da antiga escola da Boavista, em Gatão de Cima.
O trajeto, com partida dada do CIVV depois de almoço, tem uma extensão de 8/10 quilómetros e aos participantes é proporcionado o conhecimento de frondosos vinhedos de latada ou de modernas vinhas de plantação em linha; a geomorfologia da antiga freguesia e interessantes paisagens rurais e naturais.
Munidos de uma caneca de que se fazem acompanhar ao longo de todo o trajeto da Ronda, é-lhes também proporcionado o contacto com vários produtores e respetivas adegas, onde têm lugar provas vínicas e são servidos petiscos associados às vindimas.
Em cada adega, os participantes na Ronda são recebidos ao som de bombos de grupos de Zés Pereiras, de tocatas ou de violas amarantinas, celebrando-se baco.
Com muita adesão de amarantinos e igual procura de forasteiros, a Ronda das Adegas é tida como um exemplo de como fazer marketing do território, dando, neste caso, visibilidade ao vinho produzido em Gatão, de características únicas na sub-região de Amarante e com um peso assinalável na economia local.